Eram 8h quando tomamos café. Coisa bem estranha: o café puro, muito forte e gelado era servido num bule de metal. Colocamos o fundo da xícara e completamos com água fervendo. E... era muito bom!
Saímos do hotel antes dos argentinos, em direção a Ruta de la Muerte, Deth Road ou simplesmente estrada da morte. É uma antiga estrada que liga Coroico a La Paz. São uns 14 km em que a altitude varia dos 1000m a mais de 3000m, com precipícios de até 2000m. É considerada por muitos a estrada mais perigosa do mundo. Por muito tempo, foi a única interligação entre as duas cidades citadas. Ao longo dos precipícios, há cruzes e placas lembrando os mortos na estrada.
Todo o trajeto da estrada da morte é feito em mão inglesa. Assim, subimos pelo lado da montanha, deixando o precipício para as bikes dos turistas que fazem downhill.
Já no início, tivemos que atravessar dois rios com fundo de pedras. Confesso que só não amarelei porque o Josué foi na frente. Na vez do Nelo, a moto pendeu com o peso e ele parou no meio do rio. A Jucelia teve que descer e os dois já largaram com as botas ensopadas.
Toda a subida deve ser feita com constantes buzinadas para evitar acidentes. No meio do caminho, encontramos dezenas de turistas descendo de bike... Atrás deles vem sempre uma van com a equipe de apoio.
Bem na nossa frente, uma garota que pelo sotaque parecia ser norte-americana, capotou por sobre a própria bike. Ajudamos ela a se recompor e... Continuou montanha abaixo.
Num desses encontros com vans de apoio, parei do lado esquerdo e dei a vez para ele passar... O infeliz passou mas fechou muito em cima de mim, batendo a lateral da van no meu bauleto. Com o chão liso, me restou a valeta do lado da montanha, ainda bem! Logo vários ciclistas vieram me ajudar a levantar a moto, que sofreu apenas um arranhão na carenagem e outro no bauleto. Minha primeira queda!
Chegamos no final da Estrada da Morte ao meio-dia. Quando o Nelo e a Jucelia nos alcançaram, contaram que a moto deles também tinha escorregado pra valeta, mas de pé. Já no asfalto seguimos subindo até próximo dos 4800m de altitude, com uma paisagem deslumbrante. Depois, enfrentamos novamente o trânsito pesado da grande e poluída La Paz.
Chegamos na divisa com o Peru, em Desaguadero, já no fim da tarde. A Aduana boliviana é uma loucura. Desenas de sacoleiras se amontoando na janelinha de uma sala minúscula, logo antes da pequena ponte que cruza o lago Titicaca. Liberados na Aduana, liberados na Emigração, cruzamos a ponte para o Peru.
As duas cidades, tanto a boliviana como a peruana, nos fizeram sentir como se estivéssemos num filme do Jack Chan ou do Vandame. Bicicletas cargueiras, mototaxi com cobertura, todos vendendo de tudo...
Na imigração peruana, tudo organizado e rápido. O oficial até falou pra eu colar um adesivo da viagem num vidro dentro do guichê.
Na Aduana, o oficial nos informou que só nos liberaria com o seguro obrigatório. Fomos obrigados a ir numa lojinha e pagar 290 Soles por 5 meses de seguro. Depois disso, voltamos na aduana e, com o Josué e o Nelo, tudo certo. Comigo, o cara da seguradora tinha preenchido o número da placa errado... Voltei na lojinha que funciona a venda de seguro e, para minha surpresa, não havia outro bilhetes de seguro para ser preenchido. Tínhamos utilizados os três últimos da loja. Rapidamente um dos atendentes saiu e voltou minutos depois com uma gilete. Então, rasparam o número errado da apólice de seguro e colocaram o número correto.
Tudo certo na aduana, voltei à lojinha. Os atendente me olharam preocupados. Falei que por conta do atraso necessitariamos pousar em Desaguadero. Para tanto, precisavamos de um hotel com garagem. O rapaz, educadamente disse que nos levaria ao melhor hotel da cidade. Peguei a moto do Josué da frente da Aduana (as outras estavam impedidas de sair e a Jucelia e o Nelo haviam saído a procura de banheiro), e segui o rapaz num caótico trânsito até um estranho hostel. Reservei os quartos, deixei a moto do Josué no pátio interno do hostel e voltei a Aduana de carona na moto do cara da seguradora.
Depois disso, conduzi os demais e os 3 argentinos que aproveitaram a onda até o hotel. Gente, pense num quarto empoeirado. Parecia um hotel de faroeste na cidade de bankok. Estávamos em um filme dos anos 80!
Tomado banho, pois as roupas estavam suadas e congeladas, comemos um PF estranho num café que também foi indicado pelo rapaz da seguradora.
Terminava um dos dias mais cansativos e interessantes da viagem, que incluia uma queda na ruta de la muerte, a travessia na loca cidade de Nuestra Señora de La Paz e a experiência de ficar numa cidade de cinema... Kkkk.
Em todo tempo, estivemos debaixo das potentes mãos de Deus!
Se não houvessem as dificuldades seria apenas um passeio, o que importa é que estão todos bem e muita coisa pra contar na volta. Abraços a todos.
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